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Coronel Fabriciano, 24 de novembro de 2024
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Na Igreja de Santa Mônica, o esmoleiro do Papa celebrou a missa de corpo presente do sem-teto eslovaco que morreu aos 60 anos devido a um câncer que consumiu 90% do seu rosto. Por isso, ele sempre andava com um lenço no rosto. Abandonado num parque de Roma, há um ano chegou ao Palazzo Migliori convencido pelo cardeal que lhe disse: “O Papa o convida”. Ele também teve um encontro particular com Francisco. Krajewski: “Ao lado dele, era como fazer os Exercícios Espirituais”.
A reportagem é publicada por Salvatore Cernuzio, publicado por Vatican News, 17-09-2023.
Miroslaw, Mirko para os seus “amigos”, já não tinha mais um rosto, mas apenas o rosto de Cristo sofredor. Eslovaco, com cerca de 60 anos, o câncer deixou apenas a boca intacta, devorando os olhos, o nariz e boa parte do rosto. Chamavam-no de “o homem do véu”, por causa do pano que usava para se cobrir. Ele mal conseguia murmurar algumas palavras, gritar quando via alguém que tentava ajudá-lo e engolir comida. Então, depois de um ano passado no Palazzo Migliori, a estrutura a poucos passos da Colunata de São Pedro, desejada pelo Papa para todos os pobres da região, ele começou a sorrir.
Mirko morreu em agosto. Devido aos diversos trâmites burocráticos para estrangeiros, o funeral foi celebrado na manhã de sábado (16/09), na Igreja de Santa Mônica, na Piazza Sant’Uffizio, presidido pelo esmoleiro do Papa, cardeal Konrad Krajewski, e acompanhado por cerca de uma centena de pessoas, entre sacerdotes, religiosas, voluntários, representantes da Embaixada da Eslováquia e da Comunidade de Santo Egídio que administra a estrutura, e cerca de cinquenta pessoas pobres das quais este homem se tornou amigo. Um sinal de que Mirko não morreu sozinho, naquele limbo de indiferença e degradação em que viveu durante anos, quando chegou da Áustria à Itália, num parque no Monte Aventino entre moscas e formigas.
As exéquias de Mirko. (Foto: Reprodução | Vatican News)
“Ficar ao lado dele durante este tempo foi para nós como fazer Exercícios Espirituais, ele nunca reclamava, nunca fazia pedidos, ficava satisfeito com o que levávamos para ele e sempre agradecia”, confidencia, com uma pitada de emoção, o cardeal Krajewski. Foi ele, alertado por uma reportagem sobre um homem “com um lenço no rosto” que dormia no parque, quem convenceu Mirko a refugiar-se no Palácio inaugurado em 2019. “Fui lá visitá-lo, mas ele não queria se mudar. Dizia que queria morrer ali, rodeado de insetos. Eu lhe disse: olha, podemos abrir um espaço nos Jardins Vaticanos. Então sabe como ele se convenceu? Quando eu lhe disse: O Papa Francisco convida você para o novo dormitório. Ele respondeu: tudo bem, mas vou lhe responder daqui a três dias. E depois de três dias, ele disse sim.
A homilia do esmoleiro do Papa, cardeal Konrad Krajewski. (Foto: Reprodução | Redes Sociais)
Em 1° de setembro de 2022, ele chegou ao Palácio localizado perto da Colunata de Bernini. “Tinha se tornado uma presença importante”, lembra o diretor Carlo Santoro. “Certa vez, quatro bispos eslovacos vieram nos visitar e ele desceu, sempre coberto, e ficou entre eles. Começou a falar-lhes sobre o Evangelho. Uma cena incrível”.
Mirko não tinha muito tempo de vida, o câncer “que começou com um pequeno ponto perto do nariz” estava agora em estágio avançado. Já pela foto da carteira de identidade que os operadores do Palazzo Migliori e da Esmolaria Apostólica recuperaram, se via uma parte do rosto deformada.
No último período os tratamentos consistiam principalmente na limpeza do sangue e dos líquidos que escorriam da ferida aberta. Uma prática dolorosa para ele e para quem a realiza. “Mirko não queria”, diz Krajewski, “a única coisa que ele nos permitiu fazer foi medir a pressão arterial e quer saber? Era boa! Quando alguém sofre, a pressão arterial sobe e desce; em vez disso, ele não tinha esses sintomas e não tomava nem mesmo calmantes. Provavelmente estava sereno.”
Flores e velas para Mirko. (Foto: Reprodução | Redes Sociais)
O que consolou Mirko acima de tudo foi a vista da Basílica de São Pedro. “Ele passava todo o tempo olhando pela janela e, nos meses que ficou conosco, acompanhou todos os Angelus e celebrações do Santo Padre”. Chegou mesmo a ir uma vez ao Papa, numa audiência privada: “Um dia o levei”, recorda o cardeal, “ele recebeu a bênção. Até para o Santo Padre foi um momento especial, porque viu um homem sem nada”.
Para Krajewski, habituado a lidar com situações de pobreza desperadas, a vida de Mirko foi uma parábola viva. “O seu corpo foi destruído pela doença, mas precisamente por isso ele nos lembrou que não somos apenas corpo, mas também alma. Crescemos espiritualmente ao lado dele. Como sempre diz o Santo Padre, se você quer adorar Jesus, saia pelas ruas e ajude os pobres. Tivemos um Jesus Cristo aqui no Palazzo Migliori com quem podíamos sempre adorar o Senhor. Mirko, o eslovaco…”.
“Eu – acrescenta o cardeal – comecei a homilia de hoje dizendo que Mirko está morto, portanto vive. É exatamente assim”.
O corpo será sepultado no cemitério romano de Prima Porta.
Fonte: Unisinos