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Coronel Fabriciano, 14 de dezembro de 2024
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Abordar os grandes desafios da sociedade brasileira foi o propósito da análise de conjuntura social apresentada aos bispos no primeiro dia da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que é realizada em Aparecida (SP), de 19 a 28 de abril de 2023.
Elaborada pelo Grupo de Análise de Conjuntura da CNBB Padre Thierry Linard, a análise foi apresentada pelo bispo de Carolina (MA) e coordenador da equipe, dom Francisco Lima. O material parte da ideia da dificuldade de realizá-la em um momento histórico “em que as transformações, possivelmente, estão mais velozes que a nossa própria percepção”, e quer ser um instrumento que ajude na vivência dos próximos passos da CNBB.
Diante do contexto apresentado, dom Francisco apontou ser o sinal mais importante da Igreja o da “ação concreta, responsável e ética, que una a todos em torno de nosso futuro”. Para o grupo de análise de conjuntura, “a maior esperança é esperançar-nos todos os dias e em todas as circunstâncias. Sem medo, pois a esperança é a nossa coragem!”.
O início de 2023 é visto como “uma espécie de kairós, em uma conjuntura que se apresentou com diversos e complexos elementos logo após as eleições nacionais de outubro”, o que se concretizou em “estratégias de resistência ante a mudança no Poder Executivo”, buscando “tentar mudar a realidade eleitoral” fora da Constituição, o que foi combatido pelo Poder Judiciário, chegando em um ponto final em que “a democracia foi vitoriosa”.
O texto relata as diversas posições dentro das Forças Armadas, a cooptação por parte de setores radicalizados das Polícias Militares de muitos Estados e a Polícia Rodoviária Federal, a saída do país do ex-presidente, o ataque aos poderes da República no dia 8 de janeiro de 2023, por adeptos mais radicais do “bolsonarismo”, visto como “uma articulação de forças empresariais, financeiras, políticas e sociais”. Diante dessa realidade, os analistas afirmam que “o governo Lula está posto, mas ainda não está totalmente composto!”, um governo que iniciou seu mandato com um caráter popular, com a presença na posse do Presidente da República de “homens e mulheres carregados de histórias e lutas”.
O mundo está marcado por incertezas, pelo que o Papa Francisco define como “uma guerra mundial em pedaços”, que está conduzindo ao “parto de um outro mundo multipolar”, com tensões surgidas dos mesmos velhos motivos: economia, território, tecnologia e terror. Isso num mundo determinado pela desigualdade social, pelo aumento da imigração, pela crise da democracia representativa, o incremento das tecnologias digitais, o recrudescimento de governos autocráticos e de movimentos autoritários cada vez mais atuantes, a partir de estratégias de desinformação, com eleições polarizadas e sociedades divididas. Tudo isso repercute na realidade latino-americana, que é analisada, mostrando um olhar sobre como o processo eleitoral brasileiro de 2022 impactou no reordenamento geopolítico global e regional.
O texto apresenta os grandes desafios brasileiros, no campo da economia, marcado pela financeirização, o neoliberalismo e o lucro financeiro, que se contrapõe à “deterioração dos serviços públicos essenciais oferecidos a parcelas imensas do povo brasileiro”; no campo da política, abordando a questão da governabilidade e governança pública e a atual realidade política que o Brasil vive, analisando os passos que estão sendo dados entre os diferentes poderes da República.
No campo da política foi refletido sobre sua relação com a religião, mostrando como uma questão crucial o uso da religião “para a manipulação político-eleitoral ou para a difusão de discursos de ódio e fake News”, inclusive para a ascensão da extrema-direita. Do mesmo modo, foi refletido sobre a “militarização” e sua relação com a política, o que incide na democracia e aumenta as polarizações.
No campo da sociedade e da cultura, a análise de conjuntura social reflete sobre o drama da desigualdade social e racial, consequência das “muitas e severas sequelas da crise econômica causada pela pandemia”, que levou 33,1 milhões de pessoas a passar fome no Brasil, ao aumento de jovens que nem estudam, nem trabalham, a um maior endividamento da população, com um racismo estrutural e cotidiano que machuca o tecido social brasileiro. No mesmo campo, o drama socioambiental e cuidado com a Casa Comum, destacando a determinação do atual Governo Federal na reconstrução da agenda ambiental brasileira. Isso tem se concretizado numa maior valorização dos povos indígenas, com a criação do Ministério dos Povos Indígenas e ações estratégicas e integradas para o combate ao desmatamento, e a mineração.
A análise aborda a questão do desarmamento e a cultura da paz frente às violências, com o novo governo enfrentando desde o primeiro dia da política de incentivo ao armamento da população, uma urgência diante dos ataques às escolas nos últimos dias. Também foi abordada a crise do pertencimento e o problema das identidades, insistindo em que “parece ter-se perdido a referência da comunidade”.
Finalmente, a análise apresentou sinais dos tempos e de esperança, destacando os resultados do diálogo do governo federal com os outros poderes, o protagonismo dos movimentos sociais e o respeito aos conselhos de controle social, o multilateralismo nas relações internacionais. Diante disso se destaca a importância da formação política, da educação, vendo como uma urgência um grande projeto de pacificação nacional. Para isso, “o nosso mais importante sinal é o da ação, concreta, responsável e ética, que una a todos em torno de nosso futuro. A maior esperança é esperançar-nos todos os dias e em todas as circunstâncias. Sem medo, pois a esperança é a nossa coragem!”.
Por Pe. Luís Miguel Modino/CNBB Norte 1
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