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Coronel Fabriciano, 24 de novembro de 2024
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“Não percamos esse significado da Páscoa cristã, fundamentada na Páscoa Judaica, no sentido como os hebreus a celebravam. E Jesus se apoiou nela, para revelar a profundidade de seu gesto redentor.”
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“Eis que já brilham os raios sagrados da luz de Cristo, nascem as luzes puras do Espírito puro, abrem-se os tesouros celestiais da glória e da divindade. A imensa e escura noite foi engolida, as trevas impenetráveis dissolveram-se em si mesmas e a triste sombra da morte foi obscurecida. A vida se espalhou sobre todas as coisas e tudo está repleto de luz infinita, uma aurora perene ocupa o universo e aquele que está antes da estrela da manhã e dos corpos celestes, imortal e imenso, grande resplandece Cristo sobre todas as coisas, mais que o Sol.”
O ponto culminante da noite pascal está na Eucaristia, que é celebrada ao amanhecer. No artigo “A celebração litúrgica da Páscoa na igreja antiga”, publicado na revista “Civiltá Cattolica”, o professor emérito de Patrística da Faculdade Teológica da Itália Meridional de Nápoles e Pontifício Instituto Oriental de Roma, Enrico Cattaneo, recorda o início da homilia pascal atribuída a Pseudo Ippolito¹, que evoca toda o esplendor trazido ao mundo com a Ressurreição de Cristo.
Neste mesmo caminho, padre Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão “O exultante Sol do Ressuscitado no Tempo Pascal”:
“No último encontro temos utilizado uma analogia com o Sol em relação a centralidade da celebração da Páscoa em todas as ações, não somente litúrgicas, de toda a Igreja. Dissemos que como o sol, que não cessa de levantar-se sobre a terra atrai para sua órbita todos os astros, a noite da Páscoa é rodeada por todas as eucaristias e liturgias que continuamente e diariamente, a cada minuto, são celebradas em toda a terra, porque participam da Páscoa, assim como participam todos os sacramentos, sacramentais e gestos litúrgicos.
Joseph Ratzinger, em seu livro Obras Completas (Volume XI), que aborda sobre a Teologia da Liturgia, traz igualmente uma analogia com a lua e o sol, referindo-se à Páscoa, afirmando: “Assim, o simbolismo cósmico da lua corresponde ao mistério da Morte e Ressurreição que vem celebrado na Páscoa Cristã. Se o domingo depois da primeira lua cheia da primavera aparece como data da Páscoa, unem-se o simbolismo do sol e da lua: a transitoriedade vem imersa daquilo que é imortal. A morte se torna Ressurreição e desemboca na Vida Eterna. Enfim, devemos, pois, ter presente que já para Israel a Páscoa não significa simplesmente uma festa cósmica, mas é já substancialmente relacionada com um memorial histórico: é a festa do Êxodo do Egito, a festa da libertação de Israel, com o qual ele inicia o próprio caminho na história como o povo de Deus. A Páscoa de Israel é o memorial de uma ação de Deus que era uma libertação e criava, assim, uma comunidade. “Também esse conteúdo de festa entrou na concepção Cristã e contribuiu para fazer compreender a profundidade do significado da Ressurreição de Cristo. Jesus tinha conscientemente vinculado os seus últimos passos à Páscoa de Israel, a tinha escolhido como a sua “hora”. Deve existir então conexão entre o memorial de Israel e o evento novo do Tríduo sacro da cristandade. A última ameaça do homem é a morte. O homem será completamente libertado somente quando for libertado da morte. A opressão de Israel no Egito, na verdade, de fato é uma forma de morte que devia e queria destruir o povo enquanto tal. A todos os descendentes hebreus masculinos foi infligida a morte. Na noite de Páscoa, em vez disso, o anjo da morte percorre agora o Egito e golpeia nele os primogênitos. A libertação é libertação para a vida. Cristo, o primogênito da criação, toma sobre si, a morte esmaga na Ressurreição o poder da morte: a morte não tem mais a última palavra. O amor do Filho se demonstra mais forte, porque une o homem com o amor de Deus, que é o próprio Ser”²
Esse texto de Raztinger é curioso, denso de significado teológico. Não percamos esse significado da Páscoa cristã, fundamentada na Páscoa Judaica, no sentido como os hebreus a celebravam. E Jesus se apoiou nela, para revelar a profundidade de seu gesto redentor. Continua o texto, descrevendo desta forma: “Assim, com a Ressurreição de Cristo não se traz a memória, somente, um destino individual. Ele, agora, está presente de modo duradouro, porque está vivo. Reúne-nos a fim de que vivamos, também, nós: “eu vivo e vós vivereis” (Jo, 14,19). Graças à Páscoa, os cristãos se compreendem como “vivos”, como pessoas que encontraram o caminho para sair de uma existência que é mais um estar mortos que um viver, pessoas que descobriram a verdadeira vida: “Esta é a Vida Eterna: que conheçam a ti o verdadeiro Deus e aquele que enviastes, Jesus Cristo” (Jo 17,3). A libertação da morte é ao mesmo tempo a libertação da prisão do individualismo, do cárcere do “eu”, da incapacidade de amar e de abrir-se aos outros. A Páscoa torna-se, assim, a grande festa batismal em que o homem cumpre, por assim dizer, a passagem do Mar Vermelho, sai de sua velha existência para entrar na comunhão com Cristo, Ressuscitado, e, de tal modo, na comunhão com todos aqueles que lhe pertencem. A Ressurreição cria comunhão. Cria o novo povo de Deus. O Grão de Trigo, que morreu sozinho, não permanece sozinho, mas dá muito fruto. O ressuscitado não permanece sozinho se a humanidade cria, assim, a nova comunidade de homens”. Por isso, o acontecimento pascal não é rotineiro, não é maçante, não é pontual, como uma história passada. Páscoa é libertação de nossos cárceres pessoais, de nossos egoísmos e individualismos egocêntricos.
Continua Joseph Ratzinger: “O inteiro significado da páscoa Hebraica se torna presente na Páscoa Cristã. Aqui não se trata de memória de um evento, per si, passado e irrepetível, mas, como já vimos, o semel(uma só vez) se torna em Semper (sempre): Ressuscitado vive e dá vida, vive e opera a comunhão e abre ao futuro e indica a estrada. Mas não esqueçamos nem mesmo de que esta festa da História da salvação, estendida para frente, aberta ao futuro, tem as suas origens em um fenômeno cósmico e não renuncia a estas raízes: a lua que morre e surge novamente se torna o símbolo cósmico da morte e ressurreição. O sol do primeiro dia se torna o mensageiro de Cristo que “sai como o noivo do quarto nupcial, e exulta como um gigante a percorrer a seu caminho” até os extremos confins do espaço e tempo (Sl 19,6). Por isso, as datas das festas cristãs não podem ser manipuladas arbitrariamente; a “hora” de Jesus se mostra, também, para nós sempre de novo na unidade de tempo cósmico e histórico. Mediante a festa, nós entramos no ritmo da criação e na ordem da história de Deus com os homens”³”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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¹G. Visonà, Pseudo Ippolito. In sanctum Pascha, Milano, Vita e Pensiero, 1988, 231.
²RATZINGER, Joseph. Obras completas, Volume XI, Teologia da Liturgia – Fundamento Existencial da Vida Cristã, Edições CNBB, 2019, p. 91-92
³RATZINGER, Joseph. Obras completas, Volume XI, Teologia da Liturgia – Fundamento Existencial da Vida Cristã, Edições CNBB, 2019, p. 91-93.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano