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Coronel Fabriciano, 24 de novembro de 2024
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Durante seu discurso na abertura da primeira Congregação Geral do Sínodo sobre a sinodalidade, o Papa pediu que fosse distribuído uma compilação de textos patrísticos sobre o tema do Espírito Santo.
O Espírito Santo é o protagonista da vida da Igreja: o projeto de salvação para a família humana é realizado pela graça do Espírito
Quer se considere os tempos antigos – as bênçãos dos patriarcas, o auxílio da Lei, as figuras, as profecias, os feitos de guerra, os milagres realizados pelos justos – quer se considere as coisas preparadas em vista da vinda do Senhor em carne, (tudo se realizou) pelo Espírito. Primeiro, o Espírito esteve com a própria carne do Senhor, convertendo-se no seu crisma inseparável, como está escrito: “Aquele sobre quem viste o Espírito descer e permanecer, este é o meu Filho amado”; e “Jesus de Nazaré, a quem Deus ungiu com o Espírito Santo”. Depois, todas as ações de Cristo foram realizadas sob a assistência do Espírito. O Espírito estava presente quando Cristo foi submetido às tentações do demónio […], enquanto realizava milagres […]. Após a ressurreição dos mortos, nunca mais O abandonou. Querendo renovar o homem e devolver-lhe a graça que tinha recebido pelo sopro de Deus e que tinha perdido, que quere dizer Cristo quando soprou no rosto dos discípulos? “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem não perdoardes os pecados, não lhes serão perdoados”. E não é a ordenação da Igreja clara e inegavelmente realizada pelo Espírito? Com efeito, ele deu à Igreja – diz – “em primeiro lugar apóstolos, segundo lugar profetas, em terceiro lugar doutores; depois os que têm poder de operar milagres; depois os que têm o dom das curas, de assistir, de governar e de falar diversas línguas”. Esta ordem está de acordo com a distribuição dos dons do Espírito. (Bas., Spir. 16, 39, 4-32)
a. O Espírito Santo desencadeia na comunidade eclesial uma dinâmica profunda e variada: a “agitação” de Pentecostes
Mas também a vinda do Espírito Santo tem lugar na terceira hora, como aprendemos nos Actos, porque quando os fariseus escarneciam dos discípulos (que se expressavam) na multiforme energia das línguas (ἐν τῇ ποικίλῃ τῶν γλωσσῶν ἐνεργείᾳ), Pedro diz que os que dizem essas coisas não estão embriagados: efetivamente era a terceira hora. (Bas. [?], ascet. 13: PG 31, 877, 24)
b. O Espírito Santo é o compositor harmónico da história da salvação: harmonia não significa síntese, mas vínculo de comunhão entre partes diferentes
Mas Deus, antes que existisse qualquer uma das coisas que agora vemos, quando ideava e quando começava a trazer à existência o que ainda não existia, ao mesmo tempo concebeu como tinha que ser o mundo, e criou a matéria que harmonizava com a sua ideia. Aos céus atribuiu a natureza apropriada ao céu; à forma da terra deu a essência própria e devida a ela. Em seguida, deu forma ao fogo, à água e ao ar, como quis, e trouxe-os à existência como a razão de ser de cada um dos elementos exigia. Com um vínculo indissolúvel de concórdia, ele uniu o mundo inteiro, composto de partes diferentes, numa única comunhão e harmonia, de modo que mesmo os elementos colocados à maior distância uns dos outros pareciam unidos por afinidade. (Bas., hex. 2,49-61)
– A Igreja: uma única harmonia a muitas vozes, realizada pelo Espírito Santo
“Voz de nações entre os montes, semelhante (à) de muitas nações, voz de reis e nações reunidas” (Is 13,4). Provavelmente, a voz das nações numerosas nos montes é a Igreja. É por isso que foi escolhida por ser um monte plano, para que tenha espaço livre para a reunião da multidão dos que sobem às alturas do conhecimento de Deus. Por isso, vê no monte plano uma grande multidão de gente de muitos lugares com uma só voz de fé. E diz o Espírito Santo através do Profeta: “Voz de muitas nações sobre os montes (sobre os quais se ergueu o sinal) semelhante (à) de muitas nações. E a voz é única, mas é semelhante às muitas vozes das nações. Única, portanto, de acordo com a harmonia (sinfonia) da fé, mas semelhante a muitas vozes porque foi repartido em línguas de fogo pelo Espírito Santo sobre cada um dos Apóstolos que estavam prestes a semear o Evangelho (Εὐαγγέλιον) nas nações da terra. (Bas. [?], En. in Is. 13, 259: PG 30, 573B)
– O Espírito Santo está na origem da harmonia entre as Igrejas: Basílio aos seus irmãos bispos do Ocidente
Como, então, consideramos como nosso bem a vossa mútua concórdia e unidade, assim também vos convidamos a participar dos nossos sofrimentos causados pelas divisões, e a não nos separarmos de vós por estarmos distantes por causa da localização, mas em virtude de estarmos unidos em comunhão segundo o Espírito, (convidamos-vos) a recebermos uns aos outros na harmonia de um só corpo. (Bas., ep. 90, 1, 26-32)
c. O Espírito Santo conduz-nos pela mão e conforta-nos
“Esperai, de facto, tribulação sobre tribulação, e esperança sobre esperança, ainda um pouco mais de tempo, ainda um pouco mais de tempo” (Is 28,10). Desta forma, o Espírito Santo sabe consolar (lit.: ψυχαγωγεῖν = conduzir pela mão, encorajar, consolar) com a promessa do futuro os seus filhos que alimenta. Depois das tribulações, de facto, a esperança: as realidades esperadas estão ao alcance. (Bas., ep. 140, 1, 34-38)
– A ação consoladora do Espírito Santo é representada pelo estalajadeiro, a quem é confiado o homem que se deparou com assaltantes (cf. Lc 10, 25-37)
O orvalho de Deus é necessário para não nos queimar e não nos tornar estéril, e aí onde temos o Acusador, representado pelos salteadores, aí também temos o Defensor, o Espírito representado pelo estalageiro acolhedor (Lc 10,35). O Senhor confiou o “seu” homem, que tinha caído no poder dos salteadores, ao Espírito Santo. Teve piedade dele, ligou-lhe as feridas e deu-lhe dois denários reais para que, recebendo, pelo Espírito, a imagem e a inscrição do Pai e do Filho, fizesse frutificar os dons recebidos e os devolvesse, multiplicados, no último dia. (Iren., haer. III, 17, 3)
– Aquele que nos guarda é o Espírito Santo
Quando, portanto, a alma dá frutos dignos dos celeiros eternos (cf. Mt 3,12), (o Espírito) permanece perto e (guarda) e afasta os ataques de javalis selvagens (cf. Sl 74,14). (Bas. [?], En. em Is 1,20: PG 30, 152C-153A)
– O exercício paraclético multiforme do Espírito Santo
Se o Espírito Santo encontra um cobrador de impostos que tem fé, faz dele um evangelista (cf. Mt 9, 9); se encontra um pescador, converte-o em teólogo (cf. Mt 4, 19); se encontra um perseguidor arrependido, transforma-o em apóstolo dos gentios, em anunciador da fé, em vaso de eleição (cf. Act 9, 15). Através dele, os fracos tornam-se fortes, os pobres tornam-se ricos, os plebeus sem instrução tornam-se mais sábios do que os sábios. Paulo era fraco, mas, pela presença do Espírito, o seu linho pessoal trazia a cura àqueles que o recebiam (cf. Act 19, 12). E o próprio Pedro tinha o corpo débil, mas, pela graça do Espírito Santo que nele habitava, a sombra que saía do seu corpo afugentava as doenças dos que estavam debilitados (cf. Act 5,15). Pedro e João eram pobres, não tinham prata nem ouro (cf. Act 3,6), mas deram saúde mais valiosa do que muitas moedas de ouro. O coxo, depois de ter recebido ouro de muitos, continuava a ser um mendigo, mas depois de ter recebido o benefício de Pedro, deixou de mendigar, saltando como uma cria de cervo e louvando a Deus. João não conhecia a sabedoria do mundo, mas, pelo poder do Espírito, disse palavras sobre as quais nenhuma sabedoria pode suster o olhar. O Espírito habita no céu, encheu a terra, está presente em todo o lado e não está contido em lado nenhum. O Espírito habita inteiramente em cada um e inteiramente em Deus. Desempenha o serviço de proporcionar os seus dons, mas não exerce na função de servo; pelo contrário, distribui as suas graças com a sua própria autoridade: de facto, “reparte”, diz a Escritura, “os seus dons, atribuindo-os individualmente a cada um, como quer” (1 Cor 12, 11). Ele é enviado de acordo com o plano da redenção, mas actua com total independência. Peçamos-lhe que esteja presente nas nossas almas e que não nos abandone em caso algum, pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem seja dada glória e poder pelos séculos dos séculos. Amém. (Bas., fid. 3)
d. O Espírito Santo é aquele que nos faz Igreja
“Escutai isto, todos os povos, dai ouvidos, vós todos os habitantes do mundo, vós plebeus e nobres, ricos e pobres juntamente” (Sl 49, 2-3). Porque aquele que, chamando-nos dos mais diversos lugares, faz a unidade, faz de nós a Igreja (ὁ ἐκκκλησιάζων) e convoca todos com o anúncio (τῷ κηρύγματι), é o Paráclito, o Espírito da verdade (Jo 14,17), que reúne todos os que se salvam por meio dos profetas e dos apóstolos; porque por toda a terra se estende o seu anúncio, e até aos confins da terra as suas palavras (Sl 18,5); por isso diz: Ouvi isto, todos os povos e todos os habitantes do mundo (Sl 48,2). Também por isso a Igreja é composta por homens das mais diversas condições, para que ninguém seja excluído do benefício. (Bas., hom. in Ps. 48: PG 29, 433, 9-18)
Assim, o Espírito é verdadeiramente o lugar dos santos. E o santo é, por sua vez, um lugar familiar ao Espírito, porque se oferece para habitar com Deus e também chamado seu templo. (Bas., Spir. 26, 62, 22-24)
– A ingratidão e a indocilidade entristecem o Espírito Santo que habita em nós
Por isso, pelo facto de o Espírito estar em vós – se é verdade que está completamente em vós – e pelo facto de estar cegos, instruí-nos e guia-nos na escolha do que nos é útil, não sois prejudicados na vossa reta e santa opinião sobre ele. De facto, o cúmulo da deslealdade é fazer da benevolência do benfeitor uma ocasião de ingratidão (ἀφορμὴν ἀχαριστίας). “Não entristeçais o Espírito Santo” (Ef 4,30). Escutai o que diz Estêvão, oferecido como primícias dos mártires, quando censura o povo por desobediência e insubordinação: “Vós”, diz ele, “sempre resistis ao Espírito Santo”. E ainda Isaías: “Provocaram a indignação do Espírito Santo, que se tornou inimigo deles”. E em outra passagem: “A casa de Jacó indignou o Espírito do Senhor”. (Bas., Spir. 19: 50, 5-17)
– As palavras vazias entristecem o Espírito Santo
Pergunta 23. Quando podemos julgar uma conversa como tagarelice (maledicente)? De um modo geral, toda a palavra que não contribui para a realização da vontade do Senhor é inútil. E o perigo de tal palavra é tão grande que, por melhor que seja o que se diga, se não for ordenado à edificação da fé (cf. Ef 4,29), aquele que falou não escapa ao perigo por essa palavra ser boa, mas entristece o Espírito Santo porque o que diz não é ordenado à edificação. O Apóstolo ensinou-nos isto claramente quando disse: “Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só palavras boas para a edificação da fé, de maneira que façam bem aos que ouvem” (Ef 4,29), e acrescentou: “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, pelo qual fostes marcados com um selo” (Ef 4,30). É preciso dizer o grande mal que é entristecer o Espírito Santo de Deus? (Bas., reg. brev. 23: PG 31, 1098D-1100A)
“Lembra-te destas coisas, dando testemunho, diante de Deus, de que é preciso evitar contendas de palavras, porque isto nada aproveita, senão para a ruína dos que as ouvem” (2Tm 2,14)… “Evita também as discussões insensatas e ignorantes, sabendo que elas provocam contendas” (2Tm 2,23). Não se deve proferir conversas inúteis, das quais não se tira nenhum proveito. Efetivamente, mesmo falar ou fazer o bem sem ser para a edificação da fé, é entristecer o Espírito Santo de Deus. (Bas., reg. mor. 25, PG 31, 744B)
Uma vez que o Senhor não deixa sem julgamento aqueles que produzem conversa ociosa, e de uma forma ainda mais forte julga preguiçosos aqueles que deixam os seus talentos intactos na inatividade, o Apóstolo transmitiu-nos que mesmo aquele que profere uma boa palavra, mas não providencia para a edificação da fé, entristece o Espírito Santo (cf. Ef 4, 30), e por isso somos obrigados a considerar o julgamento daquele que indignamente come e bebe. (Bas., bapt. I, 3: PG 31, 1577BC)
e. O Espírito Santo confirma-nos na fé
“Pela palavra do Senhor se afirmaram os céus, e pelo sopro da sua boca todo o seu poder” (Sl 32,6). […] Entenda-se, então, que são três: o Senhor que ordena, o Logos que cria, o Sopro (o Espírito) que confirma. O que seria a confirmação (ἡ στερέωσις) senão a aperfeiçoamento (ἡ τελείωσις) na santidade, já que “confirmação” significa aquilo que é constante, imutável, firmemente estabelecido no bem? A santidade não existe sem o Espírito. (Bas., Spir. 16, 38, 37-42)
CNBB
Imagem capa: Pixabay